sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Primeiro ano de carreira

Texto de Eduardo Mello, diplomata, sobre o primeiro ano na carreira, exclusivo para o blog do Curso Diplomacia.


O primeiro ano como diplomata superou as expectativas. Não que elas fossem baixas; simplesmente não sabia bem o que esperar, pois não fazia ideia de como era o cotidiano de um aluno do Instituto Rio Branco, a vida em Brasília, a saudade de Porto Alegre, do Estádio Olímpico e dos inseparáveis amigos. Tomei posse como Terceiro Secretário, etapa inicial da carreira, em 15 de agosto de 2008, e o curso de formação no Rio Branco irá até dezembro deste ano de 2009.

No primeiro semestre do curso tivemos aulas em turno integral, com alguns horários livres para estudo. A estrutura do curso é, basicamente, constituída de disciplinas obrigatórias (como Direito, Economia, Política Externa, Diplomacia), eletivas, e de idiomas (Espanhol, Francês, Inglês). Além disso, são oferecidos cursos gratuitos pelo Ministério, como Alemão, Árabe, Chinês, Russo.

A partir do segundo semestre, passamos a frequentar o Rio Branco apenas pela manhã, iniciando o estágio no Ministério das Relações Exteriores no turno da tarde. Já fiz estágio na Agência Brasileira de Cooperação e atualmente estou na Divisão da Organização dos Estados Americanos. Temos aulas no Rio Branco, pela manhã, e estágio no Ministério, à tarde.

Esse início de carreira, esse primeiro ano, foi uma sucessão de surpresas e boas notícias. Como a realidade é algo impossível de se apreender totalmente, as opiniões variam muito sobre o curso e a carreira, mas o que move essas linhas é uma ideia muito clara: se os aspectos positivos superam os negativos, justificam o comportamento otimista e a vontade de superar as coisas que precisam ser aperfeiçoadas.

Sigo gaúcho, mas hoje minha ideia de Brasil é muito mais consistente e eclética. Essa é a sensação que tenho quando saio do Rio Branco e viro o rosto para lembrar um pouco dos primeiros dias. Convivo com colegas de todos os cantos do país, cada um com sua visão “regionalizada” sobre o Brasil, e nas discussões diárias vamos fazendo sucessivas sínteses, até a visão geral e equilibrada de hoje. Além disso, pudemos conviver com intercambistas argentinos, africanos, timorenses, que deram um certo ar cosmopolita ao Instituto. Hoje nossa consciência dos horizontes e potencialidades do país é muito mais rica e equilibrada.

Além disso, o período no Rio Branco serviu para dar mais consistência aos nossos conhecimentos, ainda que houvesse matérias em que uns tivessem mais familiaridade que outros. A formação teve também, como ponto fundamental, atividades extracurriculares, como palestras de outros colegas, Ministros de Estado, acadêmicos, chanceleres estrangeiros, visitas a comunidades carentes no entorno de Brasília, CineClube Rio Branco.

Para completar, trabalhamos na organização das Cúpulas de Salvador, na Costa do Sauípe, em dezembro de 2008, um dos maiores eventos já realizados pelo Brasil, em que foram realizadas a primeira Cúpula América Latina e Caribe de Integração e Desenvolvimento, a Cúpula do Mercosul e as reuniões extraordinárias do Grupo do Rio e da Unasul.

Foram os meses mais gratificantes da minha vida, especialmente após conseguir superar a distância de Porto Alegre. O sonho de guri era jogar futebol, mas no longo prazo a diplomacia era o grande projeto de vida. Agora, quero apenas aproveitar tudo que ela representa: servir aos interesses nacionais, ter estabilidade financeira, viver nas mais diferentes culturas e regiões do mundo, em um ambiente extremamente produtivo em termos intelectuais. As noites do Curso Diplomacia, tensas mas agradáveis, deixaram saudade, e as levarei sempre na memória, desejando o mesmo para cada um que decida encarar o concurso.


2 comentários:

Mário disse...

Foi muito interessante ouvir um relato de alguem que ja está la dentro. Para nós que queremos entrar no Instituto Rio Branco, e muito bom ouvir esses relatos de experiencias de pssoas que ja estão la, para assim termos uma noção do que é vida do diplomata enxergando um pouco como é a realidade e não somente as imagens de nossa imaginação.

Obrigado

Felicidades

Mário

Dea no tablet disse...

Andrea

Eduardo!!
Tramandaí, praia, férias... quanto tempo e agora DIPLOMATA!!!
Nossa fiquei super feliz e orgulhosa de ter um amigo que conseguiu ir tão longe, através de muito esforço, estudo e abdicação chegar onde chegaste: DIPLOMATA GAÚCHO! E ALICE? Esteve sempre contigo nesta caminhada!!
Parabéns e gostaria de manter contato novamente com vcs para interar-me dessa vida e novas culturas que irão conhecer e viver!
Um grande abraço
Andrea Schaeffer