segunda-feira, 10 de maio de 2010

Cooperação técnica

Para facilitar cooperação externa, Embrapa vai se internacionalizar

Mudança na lei facilitará operações no exterior, que cresceram na gestão Lula


CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) passará a ser uma empresa internacional, o que facilitará suas operações de cooperação técnica fora do país, atendendo à demanda crescente da África e da América Latina.
A legislação atual só permite que a estatal tenha unidades próprias no Brasil, e o anúncio da mudança deve acontecer no encontro de três dias que reunirá a partir de hoje, em Brasília, cerca de 50 representantes de ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Rural de países africanos.
Há anos a Embrapa presta assessoria agrícola na África, por meio da ABC (Agência Brasileira de Cooperação), do Itamaraty. Em 2009, a agência gastou US$ 6,8 milhões no continente -aumento de 1.478% em relação a 2005.
Mas a necessidade de dotar a empresa de personalidade jurídica que lhe permita alugar instalações e movimentar contas no exterior surgiu a partir de projetos recentes de longo prazo, que exigem a permanência de seus técnicos no país-sede.
Ditos "estruturantes", esses programas começaram na África em 2008 com o Cotton-4, sediado no Mali e que visa aumentar a produtividade do algodão naquele país e em Burkina Fasso, Benin e Chade.
A Embrapa iniciará em junho um plano de rizicultura no Senegal e prepara-se para instalar em Moçambique três projetos cofinanciados pela ABC e as agências de cooperação internacional do Japão (Jica) e dos EUA (Usaid).
Os programas em Moçambique movimentarão ao menos US$ 18,2 milhões e um deles, o ProSavana, tentará replicar o Prodecer, que transplantou culturas de clima temperado ao cerrado brasileiro e teve apoio japonês, nos anos 1980.
"Trabalhamos com um desenho que deu certo no Brasil, com adaptações locais", disse Francisco Basílio Souza, diretor da área internacional da Embrapa, que é vinculada ao Ministério da Agricultura.
A cooperação técnica não é condicionada à contratação de empresas ou à compra de produtos brasileiros, mas reforça a presença do país num continente em crescimento devido ao boom das commodities e cujo mercado é disputado por China e Índia, além das ex-metrópoles europeias.
O embaixador Rubens Ricupero, que nos anos 70 participou da primeira grande missão do Itamaraty à África, diz que o governo Lula "teve sensibilidade e senso de oportunidade" em sua política africana. "Existe ali um capital de boa vontade grande em relação ao Brasil."
Entre 2002 e 2008, as exportações brasileiras para a África cresceram 339% -75% delas foram de itens manufaturados.
Ricupero não compartilha das críticas à abertura de 13 novas embaixadas na região (são hoje 34), embora considere que exista "uma deficiência sistemática" da diplomacia em torná-las mais efetivas.
Mas ele afirma que a tendência de alta no comércio com a África vai depender menos da ação diplomática do que da "capacidade de oferta" brasileira -hoje, o câmbio e o custo do capital desfavorecem a competição com os chineses.

................................
Publicado no jornal Folha de S. Paulo em 10 de maio de 2010.

Nenhum comentário: