terça-feira, 30 de março de 2010

Proliferação nuclear

Clube nuclear

HÁ AO MENOS um simbolismo positivo no novo tratado de desarmamento nuclear entre EUA e Rússia, anunciado pelos presidentes Barack Obama e Dmitri Medvedev na sexta-feira.
A meta é reduzir em sete anos o arsenal de cada um dos países para um máximo de 1.550 ogivas com capacidade de alcance intercontinental. Os norte-americanos detêm atualmente cerca de 2.200 artefatos deste tipo, e os russos, 2.800.
Obama anunciou o plano como um passo importante para superar a herança dos "dias mais negros" da Guerra Fria. "Fortalecemos nossos esforços globais para impedir a proliferação destas armas e garantir que outras nações assumam suas próprias responsabilidades", completou.
O recado tem mais de um destinatário. A começar pelo Irã, que Washington acusa de desenvolver programa nuclear com fins militares, e pelos países, como o Brasil, que hesitam em apoiar sanções contra Teerã no Conselho de Segurança.
A mensagem também destina-se aos envolvidos na revisão quinquenal do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). Para tentar conter o surgimento de novas potências atômicas, os EUA pressionam países que não aderiram ao Protocolo Adicional do TNP -caso do Brasil- a fazê-lo. O protocolo autoriza inspeções não programadas em unidades de enriquecimento de urânio dos signatários.
É no mínimo duvidoso que o acordo contribua para alcançar tais objetivos. Mesmo com os cortes, os dois países continuarão a ter os maiores arsenais do mundo, o que limita a possibilidade de servirem de exemplo para quem quer que seja.
A dinâmica que impulsiona novos países a desenvolverem armas nucleares, de resto, segue uma lógica que escapa à relação entre EUA e Rússia. É difícil crer que a tendência de longo prazo, quanto a isso, não seja oposta à desejada pelo governo dos EUA. O mais provável é que o número de integrantes do clube venha a crescer nos próximos anos.

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Editorial publicado no jornal Folha de S. Paulo em 29 de março de 2010.

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