quinta-feira, 22 de julho de 2010

Artigo

ANÁLISE SANÇÕES

China é a sombra por trás da Coreia do Norte

Medidas dos EUA são claro aviso de que não tolerarão novas ameaças à defesa e à segurança da Coreia do Sul


CENÁRIO DE INTERVENÇÃO MILITAR NÃO PODE SER IGNORADO, POIS PYONGYANG CRÊ QUE PEQUIM SAIRÁ EM SEU AUXÍLIO


ALEXANDRE RATSUO UEHARA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A decisão norte-americana de fazer exercícios militares no próximo dia 25 de julho em águas asiáticas servirá para sinalizar ao governo da Coreia do Norte o seu compromisso com a defesa e a segurança da Coreia do Sul. Esse sinal está direcionado não apenas para o atual ditador norte-coreano, Kim Jong-il. O governo de Washington também busca advertir o futuro governante do país, que deverá assumir em setembro deste ano.
Mas uma análise desse exercício deve levar em consideração também os interesses de outro importante ator internacional -a China. Ele é apontado como resposta ao afundamento do navio militar sul-coreano, em março passado, que teria sido causado por um torpedo norte-coreano.
Trata-se também de um alerta de Washington a Pyongyang. Apesar de todos os avanços obtidos no campo militar ao longo da primeira década do século 21, chegando à realização de testes com míssil de longo alcance e da explosão nuclear em outubro de 2006, novas aventuras militares de Pyongyang contra Seul não serão aceitas.
O grande problema das ações dos EUA é que elas não têm se mostrado efetivas para conter as ações norte-coreanas. Por outro lado, o anunciado exercício conjunto com forças sul-coreanas gera tensões com a China. Neste ano, Pequim deverá se consolidar como a segunda potência econômica mundial e tem buscado se afirmar como liderança regional.

RELAÇÕES BILATERAIS
Portanto, ações contra Pyongyang, de quem hoje Pequim é a principal parceira, afetam diretamente os interesses chineses. A reprovação dos exercícios militares por parte de Pequim não abalará, neste momento, as relações bilaterais com Washington, pois ambos os governos têm profundos interesses econômicos convergentes.
Atualmente, os EUA são o principal mercado para a China; em contrapartida, o governo chinês é um dos grandes credores do governo norte-americano.

FUTURO NÃO DESEJADO
Porém, as ações dos EUA têm se tornado pouco efetivas em relação à Coreia do Norte. E, caso ocorra nova ameaça por parte de Pyongyang, Washington poderá ter de recorrer a uma intervenção militar.
Apesar de indesejado, esse cenário não pode ser ignorado, pois Pyongyang não tem se intimidado e considera que o governo de Pequim sairá em seu auxílio. Por isso, é importante colocar que, cada vez mais, os americanos não podem ignorar os interesses da China, que, além de economicamente importante, é uma potência nuclear.


ALEXANDRE RATSUO UEHARA é pesquisador do Nupri/USP e professor no curso de relações internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco (SP)

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Publicado no jornal Folha de S. Paulo em 22 de julho de 2010.

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