
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Entrevista

quinta-feira, 22 de julho de 2010
Artigo
China é a sombra por trás da Coreia do Norte
Medidas dos EUA são claro aviso de que não tolerarão novas ameaças à defesa e à segurança da Coreia do Sul
CENÁRIO DE INTERVENÇÃO MILITAR NÃO PODE SER IGNORADO, POIS PYONGYANG CRÊ QUE PEQUIM SAIRÁ EM SEU AUXÍLIO |
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quinta-feira, 15 de julho de 2010
Blog do Luis Nassif
15/07/2010
O Brasil e os vizinhos incômodos
Coluna Econômica - 15/07/2010
Nos próximos meses, o Brasil terá que administrar dois problemas sérios com dois vizinhos incômodos. O primeiro, o Equador; o segundo a Venezuela.
No caso do Equador, o problema é com a Ley dos Hidrocarburos, novo documento legal para a exploração do petróleo no país. Já foi enviado para a Assembléia Nacional e deverá ser votado em duas semanas. Por ele, os contratos de exploração de petróleo serão substituídos por contratos de prestação de serviços.
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A Petrobras tem uma pequena produção no Equador, herdada na compra da argentina Perez Companc. A empresa não tira mais que 15 mil barris diários. O contrato em vigor prevê pagamento de royalties. Com o petróleo acima de 50 dólares o barril, o estado equatoriano tem participação progressiva, que chega a quase 100% do adicional.
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No ano passado, as empresas petrolíferas assinaram contratos prevendo a transição. Inclusive especificando condições para o ressarcimento, em caso de desistência sua. A indenização será pelo valor não depreciado dos ativos.
Além da Petrobras, atuam no país a Repsol e duas companhias chinesas.
Na verdade, desde os anos 70 o Equador deixou de interessar à Petrobras. Nas explorações atuais não foi colocado recurso de acionista brasileiro.
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O problema maior é o potencial de mal estar nas relações bilaterais. Dos estados da região, o Equador é aquele que tem relações menos próximas com o Brasil. Quando ocorreram problemas com a Hidrelétrica construída pela Odebrecht, o Equador questionou em cortes internacionais o CCR (Convênio de Crédito Recíproco). Trata-se de um mecanismo essencial para permitir ao BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) financiar obras de empresas brasileiras na região. Por ele, os empréstimos a governos estrangeiros são garantidos pela receita de exportações do país, negociadas em uma câmara de compensação.
O país resolveu os problemas com a Odebrecht mas permaneceu a pendência sobre os CCRs.
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Problemas mais sérios surgirão na frente venezuelana. Não propriamente demandas entre os dois países, mas conflitos latentes internos, que parecem caminhar para uma eclosão política grave.
A Venezuela é o maior parceiro comercial do Brasil no continente; tem um PIB similar ao da Argentina.
O país está perto do caos. Em um ano em que o continente está nadando de braçada, o PIB venezuelano deverá cair 4,5%. Apenas com a redução da exploração do petróleo, o país deverá perder este ano US$ 25,5 bilhões.
A exploração de petróleo consiste em investimentos em prospecção e muito mais na exploração e na manutenção da produção. Se se deixa de investir, perde-se em média 10% da produção por ano.
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De 2003 para cá, a produção venezuelana baixou de 3,3 milhões para 2,3 milhões de barris dia. Na Venezuela, praticamente todos os bens de consumo são importados com dinheiro do petróleo.
Na terça-feira passada os jornais venezuelanos anunciava, em grandes manchetes, a chegada de um navio do Brasil, com carga de açúcar.
Faltar equipamentos para petróleo é uma coisa. Agora, a desarticulação da economia venezuelana está chegando nos bens de consumo básicos.
www.luisnassif.com.br
terça-feira, 6 de julho de 2010
Erros europeus afastaram a Turquia
Posição de Ancara em relação ao programa nuclear iraniano é explicada, em boa medida, pelo fracasso da União Europeia em produzir uma política externa coerente para o país
O "não" da Turquia às novas sanções contra o Irã aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU (posição que também teve o Brasil) revela dramaticamente toda a dimensão do distanciamento de Ancara em relação ao Ocidente. Conforme muitos comentaristas indagaram, estaremos presenciando as consequências da chamada política externa "neo-otomana" do governo do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), que supostamente pretende mudar de lado e voltar às raízes islâmicas orientais?
Acredito que esse temor é exagerado, até mesmo inadequado. E, mesmo que a situação fosse essa, seria mais por uma profecia autorrealizada da parte do Ocidente do que pela política da Turquia.
De fato, a política externa turca - que procura resolver os conflitos com e entre os países vizinhos, e o ativo envolvimento turco nesse sentido - não está absolutamente em conflito com os interesses ocidentais. Ao contrário. Mas o Ocidente (e a Europa em particular) finalmente terão de levar a Turquia a sério como parceira - e deixar de considerá-la um cliente do Ocidente.
A Turquia é e deve ser membro do G-20 porque com sua jovem população em forte crescimento formará um país muito forte do ponto de vista econômico, no século 21. Mesmo hoje, a imagem da Turquia de "doente da Europa" não é mais adequada.
Desastre turco-europeu. Quando, depois da decisão da ONU, o secretário da Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, criticou severamente os europeus por terem contribuído para esse distanciamento com seu comportamento em relação à Turquia, sua franqueza nada diplomática provocou certa agitação em Paris e em Berlim. Mas Gates fez a coisa certa.
Desde a mudança de governo de Jacques Chirac para Nicolas Sarkozy, na França, e de Gerhard Schroeder para Angela Merkel, na Alemanha, a Turquia foi enganada e marginalizada pela União Europeia (UE). Na realidade, no caso específico de Chipre, a União Europeia não chegou a romper os compromissos assumidos anteriormente com a Turquia, nem a mudar unilateralmente as normas acordadas em conjunto. E, embora os europeus tenham mantido formalmente sua decisão de dar início às negociações de ingresso com a Turquia, pouco fizeram para levar adiante a sua causa.
Somente agora, quando o desastre das relações entre a Turquia e a Europa está se tornando patente, a União Europeia de repente está disposta a abrir um novo capítulo nas negociações (o que, aliás, mostra claramente que o impasse teve uma motivação política).
Nunca será bastante afirmar que a Turquia ocupa uma posição geopolítica extremamente sensível, particularmente no que se refere à segurança da Europa. O Mediterrâneo oriental, o Mar Egeu, os Bálcãs ocidentais, a região do Mar Cáspio e o Cáucaso meridional, a Ásia Central e o Oriente Médio são áreas em que o Ocidente pouco ou nada conseguirá sem o apoio da Turquia. E isso é válido não apenas no que se refere à política da segurança, mas também à política energética, se buscamos alternativas à crescente dependência da Europa do fornecimento de energia da Rússia.
Aliados improváveis. O Ocidente, e a Europa em particular, não pode realmente distanciar-se da Turquia, considerando seus próprios interesses, mas objetivamente, é exatamente esse tipo de distanciamento provocado pela política europeia em relação à Turquia nos últimos anos.
A segurança da Europa no século 21 será determinada em um grau significativo por sua proximidade com o Sudeste - exatamente onde a Turquia é crucial para a segurança da Europa agora, e cada vez mais no futuro. Mas em vez de aproximar ao máximo a Turquia da Europa e do Ocidente, a política europeia a está jogando nos braços da Rússia e do Irã.
É uma política irônica, absurda e míope ao mesmo tempo. Durante séculos, a Rússia, o Irã e a Turquia foram rivais regionais, jamais aliados. No entanto, a cegueira política da Europa parece menosprezar esse fato.
Evidentemente, a Turquia também depende em grande parte de sua integração com o Ocidente. Se perder isso, estará drasticamente enfraquecida em sua posição diante dos possíveis parceiros regionais (e rivais), apesar de sua localização geopolítica ideal.
O "não" da Turquia às novas sanções internacionais contra o Irã muito provavelmente se mostrará um grave erro, a não ser que o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, consiga voltar atrás na questão da política nuclear iraniana. Essa possibilidade, entretanto, é extremamente improvável.
Além disso, no momento em que o confronto entre Israel e a Turquia fortalece as forças radicais do Oriente Médio, o que é que a diplomacia europeia (tanto em Bruxelas quanto nas capitais europeias) está esperando? O Ocidente, e mesmo Israel e a Turquia, muito certamente não poderão permitir uma ruptura permanente entre os dois países - a não ser que se deseje que a região continue no caminho de uma desestabilização duradoura. Está mais do que na hora de a Europa começar a agir.
Pior ainda, enquanto o pouco caso da Europa é visível em primeiro lugar na questão da Turquia e do Oriente Médio, essa situação lamentável não se limita a esse contexto. Ela ocorre também com o Cáucaso Meridional, a Ásia Central, onde a Europa, com a aprovação dos países que são fornecedores menores nessa região, deveria procurar firmemente seus interesses na área de energia e afirmar-se em relação à Rússia, bem como à Ucrânia, onde a UE também deveria estar seriamente envolvida.
Muitos dos novos desdobramentos foram provocados em toda essa região pela crise econômica global, e um novo parceiro, a China (que sempre planeja no longo prazo), entrou no cenário geopolítico.
A Europa corre o risco de esgotar o seu tempo, mesmo com seus próprios vizinhos, porque falta em todos esses países uma ativa política externa europeia e um forte compromisso da parte da UE. Ou, como disse Mikhail Gorbachev, o maior estadista russo das últimas décadas do século 20: "A vida pune os que chegam tarde demais." / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
É EX-CHANCELER DA ALEMANHA
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Publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 04 de julho de 2010.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Um mundo em movimento crescente
Talvez não haja uma força na vida tão onipresente, e tão subestimada, do que a migração, que está reordenando o globo
A arenga de Gordon Brown sobre uma eleitora "intolerante" acelerou sua saída do cargo de primeiro-ministro britânico. O que o tirou do sério? A queixa que ela fez sobre imigrantes, Quando um terremoto abalou o Haiti, os dominicanos enviaram soldados e os americanos enviaram navios - para desencorajar imigrantes potenciais. O congressista que gritou "Você mente!" ao presidente Barack Obama estava transtornado com a questão dos imigrantes.
Talvez não haja força na vida moderna tão onipresente e contudo subestimada que a migração global, esse veículo de destruição criativa que está reordenando cada vez mais o mundo. Subestimada? Um cético poderia perfeitamente questionar essa afirmação, considerando a frequência com que o tópico ganha as notícias e que as notícias provocam dissensões. Afinal, a campanha do Arizona contra imigrantes ilegais, codificada em lei em abril, desencadeou debates acalorados de Melbourne a Madri. Mas a migração também molda a paisagem por baixo de eventos aparentemente não relacionados às manchetes. É uma história por trás da história, uma maré complicadora, em questões tão distintas como as disputas por bônus escolares e os esforços para isolar o Irã.
Mesmo pessoas que ganham a vida estudando a migração têm dificuldade de apreender todos seus efeitos. "Politicamente, socialmente, economicamente e culturalmente, a migração aflora por toda parte", disse James F. Hollifield, cientista político da Universidade Metodista do Sul. "Com frequência não a reconhecemos." Um âmbito em que a migração causa efeitos importantes ainda que em grande parte subestimados é o do financiamento escolar.
Cientistas políticos descobriram que eleitores brancos são mais propensos a se opor aos planos de gastos quando percebem que os principais beneficiários serão filhos de imigrantes (em especial, de imigrantes ilegais). O resultado, é claro, afeta todas as crianças, imigrantes ou de décima geração.
"Quando se tem uma maior diversidade, enfraquece-se o apoio ao bem comum", disse Dowell Myers, um demógrafo da Universidade do Sul da Califórnia. Myers estudou a Proposição 55, uma iniciativa eleitoral de 2004 na Califórnia que tentava obter US$ 12,3 bilhões em vendas de bônus para aliviar a superlotação e modernizar escolas.
Publicamente, a maioria dos opositores enquadrou suas preocupações em termos econômicos, dizendo que o governo desperdiçava dinheiro e assumia dívidas insustentáveis. Ainda assim, o ódio contra a imigração ilegal foi, como um oponente colocou, o "elefante na sala de visitas". A superlotação escolar, ele escreveu numa carta a The Riverside Press Enterprise, "é causada exclusivamente pela estúpida política de fronteiras abertas dos EUA". Myers descobriu que, descontando todas as outras coisas (como opiniões políticas contrárias), os eleitores que viam a imigração como um ônus foram aproximadamente 9 pontos porcentuais mais propensos a se opor à medida que os que consideraram a imigração um benefício. "Esse é um grande efeito - foi quase suficiente para derrubá-la", disse ele. A medida foi aprovada por meros 50% dos votos.
Terceira onda. Os teóricos às vezes chamam o movimento de pessoas de a terceira onda da globalização, após o movimento de bens (o comércio) e o movimento de dinheiro (as finanças) que começaram no século anterior. Mas comércio e finanças seguem normas globais e são regidos por instituições globais: a Organização Mundial de Comércio, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional. Não há nenhum grupo paralelo com "imigração" no nome. A forma mais pessoal e perigosa de movimento é a mais desregulada. Os Estados fazem (e com frequência ignoram) suas regras, decidindo quem entra, quanto tempo fica e de que direitos desfruta.
Apesar de o comércio e as finanças globais serem disruptivos - alguns diriam que tanto quanto a imigração - eles são disruptivos de maneiras menos visíveis. Uma saia fabricada no México pode custar o emprego de um trabalhador americano. Um trabalhador do México pode mudar para a casa ao lado, mandar seus filhos à escola pública e é preciso falar com ele em castelhano.
Uma razão para a imigração parecer tão potente é que ela surgiu inesperadamente. Ainda nos anos 70, a imigração parecia tão pouco importante que o Departamento do Censo dos EUA decidiu parar de perguntar às pessoas onde seus pais tinham nascido. Agora, um quarto de todos os moradores dos EUA com menos de 18 anos são imigrantes ou filhos de imigrantes.
A ONU estima que existem 214 milhões de migrantes em todo o mundo, um aumento de 37% em duas décadas.
Suas fileiras cresceram 41% na Europa e 80% na América do Norte. "Há mais mobilidade neste momento do que em qualquer outra época da história mundial", disse Gary P. Freeman, um cientista político da Universidade do Texas.
Os mais famosos países de origem de migrantes na Europa - Irlanda, Itália, Grécia, Espanha - de repente se tornaram destinos de migrantes. A Irlanda elegeu seu primeiro prefeito negro em 2007, um homem nascido na Nigéria.
Como herdeiros de um passado imigrante, os americanos podem levar vantagem numa era de migrantes. Por mais contenciosa que a questão seja aqui, a capacidade dos americanos de absorver imigrantes continua causando inveja em muitos europeus (incluindo os que não se inclinam a invejar os americanos). Mas os desafios de hoje diferem dos daquele passado (mitificado). Pelo menos cinco diferenças separam essas eras e ampliam os efeitos da migração.
A primeira é o alcance global da migração. Os movimentos do século 19 eram mais transatlânticos. Agora, nepaleses suprem fábricas sul-coreanas e mongóis fazem trabalhos desgastantes em Praga. As economias do Golfo Pérsico entrariam em colapso sem os exércitos de trabalhadores de fora. Mesmo nos EUA, os imigrantes estão espalhados por dezenas de "novas portas de entrada" não acostumadas a eles, de Orlando a Salt Lake City.
Um segundo traço diferenciador é o dinheiro envolvido, que não só sustenta as famílias deixadas para trás como sustenta economias nacionais. Os migrantes enviaram para casa US$ 317 bilhões no ano passado - três vezes a ajuda estrangeira mundial total. Em pelo menos sete países, as remessas de fora representam mais de 25% de seu Produto Interno Bruto.
Um terceiro fator que aumenta o impacto da migração é o aumento relativo do contingente feminino: quase metade dos migrantes mundiais hoje são mulheres, e muitas deixaram seus filhos para trás. Seu surgimento como arrimos de família está alterando a dinâmica familiar em todo o mundo em desenvolvimento. A migração fortalece algumas, mas coloca outras em risco, e o tráfico sexual é hoje um problema mundial.
A tecnologia introduz uma quarta diferença com o passado: as massas acotoveladas chegaram à Ilha de Ellis sem celulares ou webcams. Agora, uma governanta em Manhattan pode falar com seu filho em Zacatecas, votar nas eleições mexicanas e assistir programas de TV mexicanos.
O "transnacionalismo" é um conforto, mas também um problema para os que acham que ele impede a integração. Numa era de jihad global, pode ser também uma ameaça à segurança. O imigrante paquistanês que reconheceu sua culpa em uma tentativa de atentado a bomba em Times Square disse que as lições jihadistas chegaram a ele do Iêmen, via internet.
Ao menos um outro traço amplia o impacto da migração moderna: a expectativa de que os governos a controlarão. Nos EUA, durante boa parte do século 19, não houve nenhuma barreira legal à entrada. Agora, espera-se que governos ocidentais mantenham o turismo e comércio fluindo e respeitem direitos étnicos enquanto fecham fronteiras. Seus fracassos - flagrantes, ainda que talvez inevitáveis - enfraquecem a fé mais geral na competência federal.
"Isso basicamente diz às pessoas que o governo não consegue fazer seu serviço", disse Demetri Papadementriou, um cofundador do Instituto de Política de Migração, um organização de pesquisa em Washington. "Ela cria a retórica anti-governo que vemos, e a raiva que as pessoas estão sentindo." Mas países ricos, em fase de envelhecimento, precisam de trabalhadores. Pessoas em países pobres precisam de empregos. E o aumento da desigualdade global implica que os migrantes têm mais do que nunca a ganhar procurando trabalho no exterior. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK
É ESCRITOR